sexta-feira, 15 de maio de 2015

MUDANÇA DE PLANOS

           No último sábado, dia 09/05, participei da Ultramaratona 50 milhas ou 80Km de Morungaba/SP. Distante aproximadamente 500km de Curitiba, aproveitei a viagem de carro para “observar” o caminho com um pouco mais de atenção, afinal de contas no final de Junho a ideia seria sair pedalando de casa até Passa Quatro/MG. A rota é a mesma até São Paulo, pela Rodovia Régis Bittencourt ou BR 116, e depois serão feitos os desvios. Queria traçar planos alternativos de pouso e alimentação em caso de algum tipo de imprevisto. Enfim, vamos voltar à prova.
      Estudei o mapa do percurso, que infelizmente não apresentava maiores detalhes técnicos e de altimetria, porém já sabia que seria uma prova dura, pois observando os resultados dos anos anteriores, pude verificar que os tempos dos vencedores ficavam muito próximos de 9h de prova, o que é um tempo alto para a distância a ser percorrida no caso da elite. Também sabia que não seriam tantos competidores, mas os quais estariam por lá seriam “casca grossa”.

  Cheguei no final da tarde de sexta-feira, armei acampamento no ginásio de esportes, retirei meu kit, jantei massas e observei pela última vez a previsão do tempo, que apontava para muito calor no dia seguinte. Seria a primeira vez que correria solo sem apoio numa prova desta distância, então procurei me carregar com bastante água (1,5 litros da capacidade da mochila de hidratação + 02 garrafas de 500ml) e os suplementos necessários para manter o corpo na ativa (Ultrox, Protein Sports, sal e géis de reposição). Realmente não queria depender de ninguém, tão pouco da organização. Já tive muitos problemas com pontos de água mostrados nos mapas e que não existia no meio do caminho, o que realmente coloca o atleta em alto risco.

            A previsão do tempo acertou. O sol brilhava forte já no começo da manhã, com céu azul e nenhuma nuvem no céu, um belo dia. Conferi meus equipamentos pela última vez e alinhei na largada. Olhei para os lados e vi pelo menos quatro atletas que poderiam atrapalhar meus planos, a maioria deles com carros de apoio e até com técnico. Concentrei no meu objetivo, escutei o hino nacional e largamos.

  Logo um dos atletas que participava das equipes de revezamento assumiu a ponta e segui atrás numa subida enorme e íngreme. No final desta ladeira de aproximadamente 1km, entrávamos à esquerda numa trilha técnica e deste tipo de terreno eu entendo. Passei rapidamente e assumi a ponta, só não esperava que o zíper dos bolsos da minha mochila estivessem abertos e que todos os géis caíssem no meio do mato. Por sorte o segundo colocado me avisou e parei para “juntar os pedaços”. Organizei tudo novamente e entrei sozinho na mata, que estava muito mal marcada. Todos estavam perdidos já no começo da prova e fui em direção a uma cerca. Chegando lá avisei os demais atletas que não seria por ali, só que pelo caminho uma vespa me pegou no braço esquerdo. O braço inchou na hora e começou a arder muito. Gastei um pouco da água preciosa que carregava comigo para tentar amenizar as dores. Seguimos em frente e fomos encontrando com mais atletas perdidos até que nos acharmos e voltarmos a correr.
  Neste momento estava na terceira colocação, porém correndo com o primeiro colocado das 14 milhas (22.5Km), um atleta rápido que imprimiu bom ritmo de prova. Resolvi acompanhá-lo e novamente nos perdemos. Fiquei muito irritado, pois havia uma seta levando para a direita e segundo a organização não deveríamos seguir setas e sim fitas, que novamente não existiam. Lá se foram mais uns 10 minutos perdidos. Voltamos o caminho e avistamos alguns atletas de longe. Para resumir a história, voltei à prova na última colocação.
          Sem problemas, ainda tinha mais uns 70 quilômetros para me recuperar, só que o ritmo deveria ser outro, correndo forte para não perder nem mais um minuto. Pouco a pouco fui alcançando os atletas e ultrapassando com cautela, nada de exagerar no inicio. Fechei a primeira Maratona em 4 horas, dentro do esperado e com certa tranquilidade. Neste momento me encontrava na terceira colocação e não sabia qual era a distância para os dois primeiros colocados. Contava com o apoio de alguns carros de outros atletas do revezamento que passavam e me abasteciam de água ou carros da organização que faziam a segurança dos corredores. Mantive o ritmo e quando foi lá pelo Km n° 45 avistei o segundo colocado. Me empolguei e desci forte, seguindo as fitas e buscando o adversário. Foi então que veio a terceira surpresa do dia. Estava perdido novamente. Fiquei transtornado, indignado, pra não dizer outras palavras, pois as fitas de marcação apontavam na direção errada. Reclamei com a organização e eles me pediram que entrasse no carro para me levar até o ponto onde aconteceu o erro. Já dentro do carro, com o ritmo totalmente modificado, senti câimbras e dores, sorte que foi rápido. Ao descer, lembrei dos atletas que estavam a frente e avisei para que fossem buscá-los. O segundo colocado parece que desistiu da prova por conta deste erro. Os atletas do revezamento continuaram e me ultrapassaram alguns quilômetros depois.
            Recebi a noticia que o primeiro colocado, o qual já havia feito a prova em anos anteriores, não errou o caminho e continuava na frente, mas não sabia qual era a distância. O calor ficou mais intenso e as subidas cada vez mais fortes. Do Km n° 50 até o Km n° 55,5 fiz em 1 hora caminhando morro acima num ritmo frenético. Ninguém conseguia correr naquele nível de inclinação. Ao final desta subida só queria sombra e água fresca, porém ainda faltavam 25km.
      Concentração e foco, este é o segredo para não desistir mesmo sob as piores condições. Chegamos a um bairro chamado Areia Branca e pensei que iria encontrar pelo menos um bar, supermercado, qualquer coisa para que pudesse comprar água ou refrigerante. O bairro tinha uma escola e uma igreja, que por sorte estava promovendo um evento. Pedi e fui atendido com água gelada da torneira. Fiz a reposição de energias e segui em frente. Mas como o ditado diz: tudo que sobe, desce.
          E a descida era longa e íngreme, foram alguns Km´s descendo e o balanço corporal aumentou, o que provocou enjoo e vômitos. A primeira vez que vomitei foi no km n° 62. Com a experiência adquirida ao longo dos anos de ultra, sei que tenho que reidratar de forma eficiente após vomitar. O problema é que não tinha mais água e já estava a mais de uma hora sozinho no meio do nada. Iniciei a estratégia de sobrevivência, economia total de energia. Com isso caminhava mais e corria menos, até que encontrei uma humilde residência que me forneceu a água necessária para que pudesse concluir o desafio.

        Com exatas 40 milhas ou 64 quilômetros, tentei reiniciar uma corrida mais forte e vomitei novamente. Voltei a andar em outra longa subida e ai veio a surpresa, o então terceiro colocado me ultrapassou forte, subiu correndo e mostrou que estava inteiro. Me senti totalmente desmotivado, desanimado, mas faltavam apenas 15km e não iria desistir. Voltei a trotar leve e correr mais forte nas descidas. Alguns quilômetros a frente avistei o então líder, agora segundo colocado, andando devagar numa subida forte. Aquela era a energia que faltava para me recuperar. Estrategicamente fui me aproximando até que no Km n° 71 encontramos com um dos carros de apoio e ele parou. Aproveitei a parada, me aproximei, comi uma maça, recarreguei a água e parti correndo. Notei que abri distância e não parei mais de correr até a chegada, concluindo a prova na segunda colocação com 8:50h de prova, abaixo do tempo do vencedor do ano passado, mas infelizmente pior do que o tempo do vencedor deste ano.

            A experiência de correr solo, sem nenhum tipo de apoio é totalmente diferente. Faz muita diferença ter alguém que possa te oferecer algo gelado ou quente para beber, comer ou até mesmo uma palavra de incentivo. Gostei muito da minha performance e dos desafios que tive que enfrentar para chegar ao final desta competição, o que motivou uma mudança drástica de planos para competir a Ultramaratona dos Anjos em Julho.
            Não irei mais pedalando de Curitiba até Passa Quatro e tão pouco irei correr na categoria Solo. Vou optar por correr na categoria Survivor, ou seja, com apoio e o meu foco será em primeiramente finalizar a prova e depois conseguir uma boa colocação. O meu foco este ano será em performance e tempo, o que em hipótese se consegue melhorar com apoio.
            Agradecimento especial a Território Mountain, Nutriscience, Ultox WL e Curitiba GPS pelo apoio.
            Obrigado pela leitura e bons treinos pessoal!


4 comentários:

Dalton Ferreira disse...

Parabens guerreiro
dalton

Raphael Bonatto disse...

Muito obrigado Dr. Dalton. Um grande abraço e parabéns pelas conquistas!

Paulo S Jokowski disse...

Parabéns Bonatto! Grande prova!!

Paulo Corrida de Rua BH disse...

Parabéns campeão. Prova desafiadora.

PauloBH