No último sábado, dia 09/05,
participei da Ultramaratona 50 milhas ou 80Km de Morungaba/SP. Distante
aproximadamente 500km de Curitiba, aproveitei a viagem de carro para “observar”
o caminho com um pouco mais de atenção, afinal de contas no final de Junho a
ideia seria sair pedalando de casa até Passa Quatro/MG. A rota é a mesma até
São Paulo, pela Rodovia Régis Bittencourt ou BR 116, e depois serão feitos os
desvios. Queria traçar planos alternativos de pouso e alimentação em caso de
algum tipo de imprevisto. Enfim, vamos voltar à prova.
Estudei o mapa do percurso, que
infelizmente não apresentava maiores detalhes técnicos e de altimetria, porém
já sabia que seria uma prova dura, pois observando os resultados dos anos
anteriores, pude verificar que os tempos dos vencedores ficavam muito próximos
de 9h de prova, o que é um tempo alto para a distância a ser percorrida no caso
da elite. Também sabia que não seriam tantos competidores, mas os quais
estariam por lá seriam “casca grossa”.
Cheguei no final da tarde de sexta-feira, armei acampamento no ginásio de esportes, retirei meu kit, jantei
massas e observei pela última vez a previsão do tempo, que apontava para muito
calor no dia seguinte. Seria a primeira vez que correria solo sem apoio numa
prova desta distância, então procurei me carregar com bastante água (1,5 litros
da capacidade da mochila de hidratação + 02 garrafas de 500ml) e os suplementos
necessários para manter o corpo na ativa (Ultrox, Protein Sports, sal e géis de
reposição). Realmente não queria depender de ninguém, tão pouco da organização.
Já tive muitos problemas com pontos de água mostrados nos mapas e que não existia
no meio do caminho, o que realmente coloca o atleta em alto risco.
A previsão do tempo acertou. O sol
brilhava forte já no começo da manhã, com céu azul e nenhuma nuvem no céu, um
belo dia. Conferi meus equipamentos pela última vez e alinhei na largada. Olhei
para os lados e vi pelo menos quatro atletas que poderiam atrapalhar meus
planos, a maioria deles com carros de apoio e até com técnico. Concentrei no
meu objetivo, escutei o hino nacional e largamos.
Logo um dos atletas que participava
das equipes de revezamento assumiu a ponta e segui atrás numa subida enorme e
íngreme. No final desta ladeira de aproximadamente 1km, entrávamos à esquerda
numa trilha técnica e deste tipo de terreno eu entendo. Passei rapidamente e
assumi a ponta, só não esperava que o zíper dos bolsos da minha mochila
estivessem abertos e que todos os géis caíssem no meio do mato. Por sorte o
segundo colocado me avisou e parei para “juntar os pedaços”. Organizei tudo
novamente e entrei sozinho na mata, que estava muito mal marcada. Todos estavam
perdidos já no começo da prova e fui em direção a uma cerca. Chegando lá avisei
os demais atletas que não seria por ali, só que pelo caminho uma vespa me pegou
no braço esquerdo. O braço inchou na hora e começou a arder muito. Gastei um
pouco da água preciosa que carregava comigo para tentar amenizar as dores.
Seguimos em frente e fomos encontrando com mais atletas perdidos até que nos
acharmos e voltarmos a correr.
Neste momento estava na terceira
colocação, porém correndo com o primeiro colocado das 14 milhas (22.5Km), um
atleta rápido que imprimiu bom ritmo de prova. Resolvi acompanhá-lo e novamente
nos perdemos. Fiquei muito irritado, pois havia uma seta levando para a direita
e segundo a organização não deveríamos seguir setas e sim fitas, que novamente
não existiam. Lá se foram mais uns 10 minutos perdidos. Voltamos o caminho e
avistamos alguns atletas de longe. Para resumir a história, voltei à prova na
última colocação.
Sem problemas, ainda tinha mais uns
70 quilômetros para me recuperar, só que o ritmo deveria ser outro, correndo
forte para não perder nem mais um minuto. Pouco a pouco fui alcançando os
atletas e ultrapassando com cautela, nada de exagerar no inicio. Fechei a
primeira Maratona em 4 horas, dentro do esperado e com certa tranquilidade. Neste
momento me encontrava na terceira colocação e não sabia qual era a distância
para os dois primeiros colocados. Contava com o apoio de alguns carros de
outros atletas do revezamento que passavam e me abasteciam de água ou carros da
organização que faziam a segurança dos corredores. Mantive o ritmo e quando foi
lá pelo Km n° 45 avistei o segundo colocado. Me empolguei e desci forte,
seguindo as fitas e buscando o adversário. Foi então que veio a terceira
surpresa do dia. Estava perdido novamente. Fiquei transtornado, indignado, pra
não dizer outras palavras, pois as fitas de marcação apontavam na direção
errada. Reclamei com a organização e eles me pediram que entrasse no carro para
me levar até o ponto onde aconteceu o erro. Já dentro do carro, com o ritmo
totalmente modificado, senti câimbras e dores, sorte que foi rápido. Ao descer,
lembrei dos atletas que estavam a frente e avisei para que fossem buscá-los. O
segundo colocado parece que desistiu da prova por conta deste erro. Os atletas
do revezamento continuaram e me ultrapassaram alguns quilômetros depois.
Recebi a noticia que o primeiro
colocado, o qual já havia feito a prova em anos anteriores, não errou o caminho
e continuava na frente, mas não sabia qual era a distância. O calor ficou mais
intenso e as subidas cada vez mais fortes. Do Km n° 50 até o Km n° 55,5 fiz em
1 hora caminhando morro acima num ritmo frenético. Ninguém conseguia correr
naquele nível de inclinação. Ao final desta subida só queria sombra e água
fresca, porém ainda faltavam 25km.
Concentração e foco, este é o
segredo para não desistir mesmo sob as piores condições. Chegamos a um bairro
chamado Areia Branca e pensei que iria encontrar pelo menos um bar,
supermercado, qualquer coisa para que pudesse comprar água ou refrigerante. O
bairro tinha uma escola e uma igreja, que por sorte estava promovendo um evento.
Pedi e fui atendido com água gelada da torneira. Fiz a reposição de energias e
segui em frente. Mas como o ditado diz: tudo que sobe, desce.
E a descida era longa e íngreme,
foram alguns Km´s descendo e o balanço corporal aumentou, o que provocou enjoo
e vômitos. A primeira vez que vomitei foi no km n° 62. Com a experiência
adquirida ao longo dos anos de ultra, sei que tenho que reidratar de forma eficiente
após vomitar. O problema é que não tinha mais água e já estava a mais de uma
hora sozinho no meio do nada. Iniciei a estratégia de sobrevivência, economia
total de energia. Com isso caminhava mais e corria menos, até que encontrei uma
humilde residência que me forneceu a água necessária para que pudesse concluir
o desafio.
Com exatas 40 milhas ou 64 quilômetros,
tentei reiniciar uma corrida mais forte e vomitei novamente. Voltei a andar em
outra longa subida e ai veio a surpresa, o então terceiro colocado me
ultrapassou forte, subiu correndo e mostrou que estava inteiro. Me senti
totalmente desmotivado, desanimado, mas faltavam apenas 15km e não iria
desistir. Voltei a trotar leve e correr mais forte nas descidas. Alguns
quilômetros a frente avistei o então líder, agora segundo colocado, andando
devagar numa subida forte. Aquela era a energia que faltava para me recuperar.
Estrategicamente fui me aproximando até que no Km n° 71 encontramos com um dos
carros de apoio e ele parou. Aproveitei a parada, me aproximei, comi uma maça,
recarreguei a água e parti correndo. Notei que abri distância e não parei mais
de correr até a chegada, concluindo a prova na segunda colocação com 8:50h de
prova, abaixo do tempo do vencedor do ano passado, mas infelizmente pior do que
o tempo do vencedor deste ano.
A experiência de correr solo, sem
nenhum tipo de apoio é totalmente diferente. Faz muita diferença ter alguém que
possa te oferecer algo gelado ou quente para beber, comer ou até mesmo uma
palavra de incentivo. Gostei muito da minha performance e dos desafios que tive
que enfrentar para chegar ao final desta competição, o que motivou uma mudança
drástica de planos para competir a Ultramaratona dos Anjos em Julho.
Não irei mais pedalando de Curitiba
até Passa Quatro e tão pouco irei correr na categoria Solo. Vou optar por
correr na categoria Survivor, ou seja, com apoio e o meu foco será em
primeiramente finalizar a prova e depois conseguir uma boa colocação. O meu foco
este ano será em performance e tempo, o que em hipótese se consegue melhorar
com apoio.
Agradecimento especial a Território
Mountain, Nutriscience, Ultox WL e Curitiba GPS pelo apoio.
Obrigado
pela leitura e bons treinos pessoal!
4 comentários:
Parabens guerreiro
dalton
Muito obrigado Dr. Dalton. Um grande abraço e parabéns pelas conquistas!
Parabéns Bonatto! Grande prova!!
Parabéns campeão. Prova desafiadora.
PauloBH
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