sexta-feira, 3 de junho de 2016

ESTUDOS SOBRE CORRIDAS EM MONTANHA - DESCIDAS

No dia 14/05 estive em Gaspar/SC ministrando uma Clínica de Corrida em Montanha a convite da Ultra Trail Eventos dos amigos Maicon Cellarius, Débora Wanderck e Mauricio Pamplona. Apesar da abordagem técnica, o público foi diverso, com profissionais da área de educação física, corridas de aventura e atletas. Falamos sobre métodos de treino, técnicas, montagem de ciclos, periodização, equipamentos utilizados, provas específicas, entre outros diversos assuntos.
No próximo final de semana (04/06) fui convidado novamente para ministrar uma palestra na primeira Clínica de Capacitação em Trail Running promovida pela TRC Brasil, empresa da qual fui um dos fundadores. Teremos grandes nomes participando como Leticia Saltori, Marco Piazza, Cid Araújo, Marcelo Sinoca, Daniel Junior e Ricardo Beraldi, cada um abordando temáticas diferentes. Fiquei muito contente com o convite, pois novamente irei poder compartilhar experiências com Profissionais de Educação Física de outras cidades e estados.
Como esta demanda vem crescendo muito, acredito que exista interesse também em estudos recentes publicados sobre o assunto. Estou envolvido num projeto desenvolvido pelo Prof. Dr. Raul Osiecki, responsável pelo CEPEFIS - Centro de Estudos da Performance Física da Universidade Federal do Paraná. Nosso objetivo será entender melhor as metodologias de treinamento e respostas dos atletas dentro de inúmeras variáveis que este esporte específico compreende.
Nesta primeira fase de revisão bibliográfica estou tendo acesso a alguns artigos e vou procurar compartilhar alguns com vocês. A maioria está escrito em inglês, então vou traduzir e tentar explicar resumidamente alguns deles por aqui.
O primeiro deles foi publicado recentemente, no dia 08 de Abril de 2016 pelo Journal of Biomechanics ou Jornal da Biomecânica www.jbiomech.com. Escolhi este estudo pelo fato de conter um tema super interessante a todos os praticantes da modalidade e também por ser extremamente recente:

"Foot strike pattern differently affects the axial and transverse components of shock acceleration and attenuation in downhill trail running." 
Giandolini M, Horvais N, Rossi J, Millet GY, Samozino P, Morin JB.

Traduzindo:

"Tipos diferentes de pisada afetam os componentes axiais e transversais da aceleração do choque e atenuação numa descida trail running."

Resumindo: Os autores procuram verificar se o tipo de pisada aumenta ou diminui o impacto e seus efeitos numa descida íngreme na corrida de montanha, principalmente no que diz respeito ao aumento do risco de lesões ou fraturas por stress nos ossos dos membros inferiores.

O tipo de pisada é reconhecidamente um dos fatores que influenciam no impacto severo e na cinemática dos membros inferiores. A proposta do estudo foi analisar como estes diferentes tipos de pisada afetam os componente axiais e transversais na aceleração e atenuação durante uma descida intensa.
Foram analisados 23 (vinte e três) Trail Runners durante uma descida intensa de 6.5 Km e desnível negativo de -1264m, o mais rápido possível, Quatro acelerômetros tri-axiais foram colocados nos calcanhares, metatarsos, tíbia e sacro, analisando o movimento em seis diferentes sessões. As acelerações dos calcanhares e metatarsos foram utilizadas para identificar o tipo de pisada. Já as variáveis de impacto axial e transverso durante as acelerações, frequências médias e atenuação do impacto foram acessadas entre a tíbia e o sacro.
O estudo mostrou que a pisada do tipo anterior foi associada aos picos máximos de aceleração axial e frequência média na tíbia, menores frequências médias na tíbia e sacro e menor aceleração transversal no sacro. Com a aceleração resultante da descida, observou-se um aumento da frequência medial na tíbia e diminuição do pico de aceleração no sacro, a qual foi observada aumento quando utilizada a pisada posterior (calcanhares). Com isso ficou evidente que o tipo de pisada afeta de diferentes formas os impactos e seus efeitos durante a aceleração numa descida íngreme durante corridas de montanha.
Conclui-se que, globalmente, a atenuação das vibrações do impacto e seus efeitos são melhor observadas usando a pisada do tipo anterior.

Analisando este artigo, que logicamente deve ser acessado de forma completa e detalhada para que cada um tire suas próprias conclusões, ficou claro que a pisada do tipo anterior protege mais nossos ossos da tíbia e sacro. Observamos um aumento destes impactos quando utilizamos a pisada posterior, caindo com os calcanhares. Note que o artigo não leva em conta efeitos musculares e sim ósseos,

Um excelente artigo escrito em Julho de 2013 pelo ultramaratonista e técnico Manuel Lago para o site Web Run (http://www.webrun.com.br/h/noticias/aprenda-a-descer-trilhas-nas-corridas-de-montanha/14935) mostra alguns aspectos importantes que devem ser levados em conta durante as provas e treinamentos de aperfeiçoamento de suas técnicas de descidas para corridas de montanha. Vale a pena conferir.

Enfim, como técnico e atleta o que posso dizer é que quando mais rápido e leve você descer, menor será o desgaste. Se você treina em alguma assessoria esportiva ou academia que possui aparelhos de exercícios funcionais, peça para que seu Professor utilize bastante exercício de propriocepção, coordenação motora, pliometria e agilidade nos seus aquecimentos. Logicamente que dentro de uma programação e sem exageros. Isso vai te ajudar bastante quando cair na realidade, mato fechado, descidas íngremes, pedras, etc. Caso não tenha uma assessoria, algumas dicas para quem treina nas cidades é correr sobre a calçada, saltar pequenos obstáculos, escolher trilhas secundárias em parques, correr sobre o trilho dos trens (com segurança e atenção!), subir e descer escadarias, etc.
Agora, existe um princípio do treinamento desportivo que levo muito em consideração: PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE. Pode ter certeza de que quanto mais você subir ou descer numa montanha, mais forte, rápido e ágil vai ficar, até mesmo nos seus treinamentos de rua.

Pessoal, é isso, espero que tenham gostado e aceito suas opiniões. Maires informações pelo e-mail contato@raphaelbonatto.com.br ou pelas mídias sociais.

Um grande abraço a todos!


3 comentários:

Daiane Luise Souza disse...

Legal Raphael, lembrando que um bom trabalho em diversos planos, frontal , transversal e sagital fazem toda diferença para corredores de montanha!😉
Adorei saber da pesquisa! Let me know if you need help!

Marcio disse...

Olá, Rapahel!

Parabéns pela iniciativa em traduzir os artigos e trazer informações técnicas de qualidade, aliada a comentários de quem têm experiência.

Abs,

Helio Marcio
hpiran@uol.com.br

Raphael Bonatto disse...

Obrigado por seus comentários Dai e Marcio. O objetivo é este mesmo, compartilhar experiências para que mais pessoas possam se beneficiar e discutir ideias e propostas de treinamento. Um grande abraço!